Entrevista com Maurílio Fontes, a real dimensão do marketing
Acho que Caio Pimenta acerta muito ao destacar o papel de Maurílio Fontes na virada de Joaquim Neto sobre Paulo Cezar em 2020. Preocupa-me, no entanto, a hipervalorização do marketing. Eleição, em Alagoinhas e quase que em todo o país, se ganha com cabos eleitorais. Acho que o marketing foi fundamental para a alocação desse recurso humano na referida eleição.
Outros fatores foram preponderantes também como o desvio dos votos de esquerda, no chamado voto útil e a presença de um cabo eleitoral de peso como Jucélio Carmo e do próprio Caio Pimenta em um programa que tem sua credibilidade elevada com as presenças de Chico Reis e José Gomes, sem dúvida o melhor time da cidade.
Se não fosse a Rádio 2 de Julho, acho que o marketing teria feito pouco por Joaquim, embora considere que o brilhante trabalho do competente Maurílio Fontes fez grande diferença positiva. Vamos ler mais Max Weber e Bourdieu, esquecer um pouco Marx e Maquiavel ou Bobbio.
Quem ouviu a entrevista do comunicador hoje, no programa Primeira Mão (21/03), pode ficar com a impressão que um marketeiro é um milagreiro, lembrando que Lula sempre foi um dos favoritos em todas as eleições que disputou e estávamos em um momento pós-derrocada de ACM no cenário nacional. Lula era o candidato anticorrupção, sempre foi, curioso, né?
E só perdeu a eleição para Collor por causa da Rede Globo, curioso, né? Na realidade, não bateu FHC por conta do Plano Real. Lembrando que o fim dos anos 90, início do anos 2000, foi o momento da esquerda na América Latina, independente de marketing. Acho que marketing e dinheiro fazem a diferença, como no caso de Dilma Rousseff na reeleição - descartando a possibilidade de fraude eleitoral.
Fico me perguntando se ainda existe a polaridade de 2018: candidato antissistema X candidatos do sistema. Quando Maurílio Fontes elogia Antonio Lavareda e Mônica Bergamo, fala em rejeição de Lula, mas não cita a corrupção, isso me parece uma narrativa de retorno ao velho sistema, mesmo que Bolsonaro não possa mais ser considerado antissistema. Ainda mais quando diz que a JovemPan produz fakenews, como se a grande mídia não fizesse incomparavelmente muito mais.
Quando ele assegura a credibilidade das pesquisas, destacando o DataFolha ( que é o menos confiável pela população - deveria se fazer uma pesquisa sobre a confiabilidade popular das pesquisas ) ele parece lógico, pois, como marketeiro, tem que defender esses pressupostos, entretanto me deixa a impressão, mais uma vez, de que aposta no retorno do velho "sistema" em toda a sua plenitude ou então acredita que política é assim mesmo e sempre será.
Se as pesquisas dos grandes institutos são confiáveis, por que existem pesquisas internas?
Pesquisas, muitas vezes, são profecias autorrealizáveis - se digo que um candidato lidera, ele recebe mais apoio político e a própria população passa a ter sua percepção alterada. Nos EUA, as pesquisas acertaram? Dilma e muitos outros foram eleitos em 2018? Interessante que pesquisas sempre erram para o lado mais forte economicamente.
Vale notar que o entrevistado diz que se baseia em ciência e não em opinião e eu acredito, mas ressalta a opinião dos petistas de que Radiovaldo Costa conseguirá se eleger. Deixou, por outro lado, de mencionar os possíveis benefícios do favoritismo de ACM Neto na campanha de Paulo Azi na cidade.
Maurílio explicou de forma muito rápida a retirada da pré-candidatura de Jacques Wagner, se limitando a versão oficial, desentendimento com Rui Costa - nas barbas do velho Lula, que manda em tudo? Existe a versão popular de que tudo foi acertado para se ter o apoio de ACM Neto à Lula, já no primeiro turno.
Ainda bem que o marketing não é a única ciência a determinar uma eleição, existem ainda a sociologia, a psicologia, a administração, a saúde, a educação e a mais importante área de conhecimento, com seus estudos sobre a ética, a filosofia e um campo humanitário importante que é a religião, que também prima pela ética. Além do imponderável e da dedicação das equipes que estarão empenhadas na conquista do voto.
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