Aquífero de Tucano, uma dádiva para Alagoinhas e todo o Agreste Baiano


 




Por Geraldo Almeida Souza* 


Antes de mais nada é importante esclarecer o que é um aquífero ou bacia sedimentar. A grosso modo, é uma região geográfica cujas rochas que originaram o solo têm poros ou fissuras que permitem, desde milênios, a infiltração das águas da chuva, que se acumulam a grandes profundidades, formando um mar de água doce sob os nossos pés. Existem duas camadas de água subterrâneas: uma mais próxima da superfície, chamada  de lençol freático, que origina as cisternas  e outra camada mais profunda, com maior volume d'água, chamada de  artesiana ou aquífero.


A bacia sedimentar de Tucano, ou seja, um enorme aquífero subterrâneo, vem de muito longe, ultrapassando as terras de Jeremoabo no sentido da divisa de Pernambuco e tem Alagoinhas como um dos seus municípios no extremo oposto. É dividida em três sub-bacias: a Tucano Norte, a Tucano Centro e a Tucano Sul. Vamos nos ater à sub-bacia Tucano Sul porque ela congrega  municípios que estão na zona de influência de Alagoinhas.


 Considerando suas dimensões, com 270 km de comprimento e largura média de 80 km, pode-se afirmar que é praticamente impossível que a sua exploração racional, por indústrias de bebidas, para abastecimento residencial e para irrigação venha provocar sua exaustão, exceto se ocorresse uma mudança climática permanente com escassez de chuvas e desertificação.


 Por décadas e décadas,  esse enorme aquífero subterrâneo esteve sub-aproveitado econômicamente, exceto para o turismo no Jorro com suas águas termais, para sistemas de abastecimento d'água urbanos e para alguns projetos de irrigação de pequeno porte. Só a partir do final dos anos noventa, surgiram, então, projetos de grande expressão econômica.


 O Polo de Bebidas de Alagoinhas 


Em 1997,  a ex-empresa de bebidas Schincariol (atual Heineken), inaugurou em Alagoinhas a sua primeira fábrica fora do estado de São Paulo, após estudos comprovarem o alto grau de pureza da água do Aquífero de Tucano no município. Isso atraiu mais duas fábricas de bebidas, a Itaipava e a peruana São Miguel, já existindo uma quarta em tratativas com a prefeitura local. Outras poderão chegar, por uma série de fatores favoráveis: a água é de ótima qualidade para cervejarias, comparável com a pureza da água de Pilsen na República Tcheca; energia abundante, elétrica e a gás liquefeito de petróleo (GLP) extraído pela Petrobras na região; ótima estrutura viária, sendo a região servida por duas rodovias federais, a BR 101 e a BR 110, e por rodovias estaduais que se dirigem à capital.


 Produção Frutícola Irrigada 


 Em 2004, a empresa ITAUEIRA, sediada no Piauí, precisava  expandir-se para regiões onde chovesse pouco, tivesse temperatura média alta e água em abundância para irrigação. Foi quando ela iniciou um bem sucedido projeto de produção de melão irrigado (melão Rei) no município de Ribeira do Amparo, contrariando a tese de que naquela região a agricultura irrigada não daria certo por causa dos solos bastante arenosos. Deu certo e a empresa, com suas unidades de produção na Bahia, no Piauí e no Ceará tornou-se uma das maiores produtoras de melão do Brasil.


Em 2002, um tradicional produtor de limão Tahiti, de São Paulo, Vicente Promícia, com a coragem de um bandeirante adquiriu uma grande área de terras no meio do nada, na parte mais seca do município de Inhambupe, sem energia elétrica, com estrada precária e sem uma só edificação, tendo como aspectos positivos apenas a topografia  plana, a vegetação pouco densa que barateava o desmatamento e a parte inicial do rio Inhambupe para irrigar as plantas.


 Como em São Paulo os preços proibitivos das terras impediam o crescimento do seu negócio, ele viu naquela fazenda, leiloada por um banco, a oportunidade que precisava para ampliar seus plantios, visando atender à  crescente demanda, principalmente do mercado exterior. Foram muito duros os anos iniciais para implantar o projeto de limão, estando o produtor com limitado recurso financeiro e tendo grandes despesas, inclusive para gerar energia com um conjunto a diesel.


Com o advento de um longo período de seca, a situação ficou quase insustentável, pois o rio reduziu bastante o seu volume d'água e sem energia elétrica não seria possível a captação através de poço artesiano na bacia de Tucano, onde a fazenda se situa. Àquela altura dos acontecimentos, Vicente Promícia e sua fazenda ITACITRUS já eram conhecidos na região e no meio técnico-científico da Bahia como sinônimo de progresso, modernidade e geração de empregos, num ambiente de pobreza e de cultivos de subsistência. A boa fama não demorou a chegar aos ouvidos do governo do estado, o qual foi muito receptivo ao seu pedido de extensão da rede elétrica que passava muito distante do local, determinando a execução pela COELBA.


Com água abundante, captada através de diversos poços artesianos,  irrigando totalmente seus plantios, a Itacitrus Agroindustrial cresceu, se consolidou e se tornou a maior produtora de limão Tahiti do país, além de maior exportadora para o mercado europeu e americano. 


Segundo o IBGE, a Bahia produziu 610 mil t de laranja em 2023, numa área de 49 mil ha. O Território Litoral Norte e Agreste Baiano é detentor de 75% da produção do estado e Rio Real desponta como o maior município produtor, com 42% da produção estadual. É uma cultura que se originou em Alagoinhas, desde a década de quarenta, e se expandiu como lavoura de sequeiro, sem muita tecnologia e, por isso, a sua produtividade ainda é muito baixa (12,5 toneladas por hectare) embora existam na região pomares de alto padrão tecnológico produzindo  mais de 40 t/ha. Entretanto, uma nova citricultura vem se instalando na região do Agreste Baiano, com pomares de médio e grande porte, totalmente irrigados, onde é empregada tecnologia de ponta, o que lhes confere uma alta produtividade.


Na região em apreço, Inhambupe lidera em área plantada, seguido por Itapicurú, mas é em Satiro Dias que a dinâmica de novos plantios tem sido mais intensa graças à expansão das linhas de energia elétrica de alta tensão, permitindo a exploração do aquífero de Tucano através de poços artesianos. Outro fator que tem estimulado a vinda de novos empreendedores para a região é a disponibilidade de terras a preços bem acessíveis, embora em Sátiro Dias tenha havido uma valorização extraordinária no curto intervalo de cinco anos. Os municípios mais aptos à fruticultura irrigada são Alagoinhas, Inhambupe, Sátiro Dias, Itapicuru, Olindina, Nova Soure, Cipó, Ribeira do Amparo e Biritinga.


Para mim fica claro, com todos estes exemplos, que o Aquífero de Tucano é uma mina de oportunidades, tanto para ampliação do polo de bebidas como para o surgimento de um novo Polo de fruticultura irrigada na Bahia.



 




*Geraldo Almeida é engenheiro agrônomo, ex-Secretário Executivo da Câmara Setorial da Citricultura Baiana e ex vice-prefeito de Alagoinhas.

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