Marketing e Máquina Pública em ano eleitoral
Usar a máquina pública para fins políticos não precisa exatamente passar por corrupção. Ações legais podem ter apelo eleitoral e uma visão bem treinada de marketing pode ajudar muito nisso. Quando a Prefeitura faz a Feira Cidadã, destinada aos feirantes da Central de Abastecimento, pode-se ver como isso funciona, caso eu não esteja ficando paranoico.
Levou-se atendimento médico, estético e jurídico para a porta das pessoas, só faltou estender o tapete vermelho, se é que faltou. O argumento é que o feirante não tem tempo de ir ao médico no meio da semana, curiosamente uma tese muito defendida por Radiovaldo Costa. Mas não é só o feirante que sofre com esse problema. Então por que o tratamento diferenciado? Porque é mais barato atender um segmento específico do que a população inteira. Esse também é o componente/estratégia de marketing embutidos nas políticas identitárias, vai vendo.
O evento também é mais um evento - espetáculo - que um atendimento, tudo novinho, unidades móveis de saúde, toldos, jalecos, mesas e cadeiras, todo mundo uniformizado, atendentes lindas da nossa briosa classe média. Com o luxo de levar o advogado, um artigo raro e inacessível (junto com o médico) a maioria da população para atender aos pobres coitados.
Por que as universidades não fazem isso o tempo todo? Por que a OAB não faz isso o tempo todo também, por que a própria justiça, custeada com dinheiro dos impostos pagos pela população, não faz isso? Tudo é marketing, coincidentemente, em ano eleitoral.
Foram feitos 700 atendimentos em uma manhã. Um número alto. Por que, então, os postos de saúde só atendem 20 pessoas por dia? Claro que teve atendimento de estética e outros, digamos que apenas 10% desse número estão relacionados aos serviços de saúde, ainda assim seriam 70 contemplados. Há outro engodo acoplado, o atendimento vai se desdobrar em outros atendimentos com especialistas e exames, que terão que ser feitos pelas vias normais. E aí onde fica o argumento da "falta de tempo"? Seria tudo isso dinheiro jogado fora para criar uma fantasia (marketing)?
Atualmente as filas nos postos e na central de marcação de consultas e exames foram extintas, logo no ano eleitoral. Veremos ônibus novos circulando, atendentes tratando o povo com gentileza, para tudo voltar ao normal depois das eleições. As filas na marcação de exames e consultas acabaram, porque os postos estão também prestando esse serviço, mas o tempo de espera(demora) para conseguir o agendamento continua o mesmo.
Isso se complementa com a maioria da câmara na base governista e com a maioria dos sites e rádios bombardeando dia e noite essas "notícias" ou peças de marketing, cuidadosamente realizadas para encobrir a face feia da realidade. Tá tudo dominado. Existem cidades em que cotas de consultas e exames ficam nas mãos de determinados vereadores para trocarem por votos, mas isso não acontece em ano eleitoral, ocorre o tempo todo, sistematicamente, a mais vergonhosa das compras de votos.
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