Não existe mais jornalismo, só comunicação e enganação
As verbas governamentais passaram a ganhar extrema relevância na sustentação das empresas de comunicação. Quando o capitalista era preponderante nessa relação, já existia um sequestro da verdade, pois os empresários tinham uma relação íntima com os governos, muito para se evitar a expansão de ideias socialistas e muito para garantir que a verba estatal fosse inteiramente destinada à infraestrutura para desenvolver a economia.
Precisavam manter a ideia de que gastos sociais eram desnecessários. Empresários, mais do que hoje, costumavam entrar para a política ou algum parente seu ou amigo. Lembrando da época do Regime Militar, quando todos jogavam no mesmo time. Não havia concurso público, e os empresários queriam também os melhores cargos para seus parentes e amigos.
Dentro desse contexto, podemos dizer que a Rede Globo nunca fez jornalismo e que jornais como o A Tarde, em cada estado da federação, não estavam longe disso. Faziam o jornalismo da época o Jornal do Brasil, A Folha de São Paulo e o Estadão. A Veja também nunca fez jornalismo, a Isto é já mostrava alguma verdade. Também militavam pela verdade o Pasquim, a Tribuna Operária, complementados pelos discursos políticos de quem lutava pela redemocratização, pelos livros, músicas, peças de teatro e filmes.
Toda essa verdade produzida pelo jornalismo heroico era disseminada pelo movimento popular. Hoje até a arte e o movimento popular estão corrompidos pela verba governamental. Existia verdade, hoje a academia ensina que ela não existe, se não existe, por que a sufocam?
Mesmo nesses veículos arregados, havia jornalistas sérios que tentavam passar o mínimo de verdade nas publicações.
Hoje aquela relação promíscua com os empresários diminuiu bastante, mas o avanço das verbas governamentais no caixa das empresas de comunicação passou a ser notório, além do que entra muito via caixa dois, por que existe doleiro de emissora de TV?
No interior, as Prefeituras ditam cada vez mais o que é verdade e o que mentira, diz o que pode e o que não pode ser publicado subliminarmente, claro. Existem os "jornalistas" vivaldinos que atuam como prostitutas mesmo, mas existem os honestos que, de tanto viver miseravelmente, têm que ceder ao sistema brutal para sobreviver.
O jornalista honesto passa a trabalhar com uma espada sobre sua cabeça, se falar demais é decepado. Nenhuma Prefeitura diz abertamente para o probo: você vai escrever só o que eu quero. Mas para quem tem família para sustentar ou quer estruturar a vida para ter uma, não vai se ariscar publicando algo contra quem lhe paga as contas ao fim do mês.
Por isso hoje não existe mais jornalismo, apenas empresas de comunicação, apenas informações, jamais análises, interpretações e críticas, elementos do verdadeiro jornalismo.
Existem várias técnicas de manipulação dos fatos, mas basta citar duas, a meia-verdade e a omissão das ocorrências mais negativas. O modelo de gestão ajuda, promove várias melhorias miúdas e pontuais, que geram três, quatro notícias por dia, despejadas nas rádios e sites para dar a impressão que a Prefeitura não para de trabalhar.
Mas nenhuma solução efetiva para os problemas centrais é encaminhada, nada de estrutural e substancial é feito - os grandes desafios da educação, da saúde, da segurança, do desemprego persistem e os políticos ficam cada vez mais ricos e a imprensa e a opinião pública, mais pobres.
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