O pobre eleitor atordoado
As redes sociais vieram para mudar tudo, mas os privilegiados continuam os mesmos. Quando existe uma possibilidade mínima de mudança no status quo, procuram de imediato impor censura à nova mídia. Sim, ainda vale a pena falar em status quo, embora a expressão seja vaga, por demais genérica, dada a imprecisões. Mas ela localiza a maquinaria do poder de forma minimamente satisfatória para o senso comum.
O poder econômico manda na política. Em Alagoinhas, o poder econômico está representado pelos empresários do comércio. Se a pessoa não for ungida por esse grupo, ela não se sustenta socialmente, profissionalmente e é dessa forma, mexendo no caldeirão social, que eles dominam a política indiretamente e têm grande poder sobre a comunicação local, algo que merece um texto específico. Em resumo, os empresários do comércio têm poder de administrar o "prestígio" (Pierre Bourdieu), ou seja, inventaram o cancelamento antes mesmo das redes sociais.
O PT na cidade, especialmente nos anos 80, criou realmente um movimento de baixo pra cima, gerando um novo modelo de administrar o "prestígio", mas Joseíldo, sempre ele, e Lula em nível nacional e Wagner, no estado, atrelaram essa força ao poder econômico, perdendo seu caráter de insurgência, seu potencial revolucionário, restando uma retórica revolucionária vazia, submetida à classe média, formando então, agora no poder, uma nova classe média burocrática, estamental, como disse bem Raimundo Faoro, em "Os Donos do Poder", uma lástima. O PT virou classe média.
Mas voltando às redes sociais, circulou no zap, um vídeo de um jovem médico descendo a borduna nos candidatos da cidade, mandando até político tomar cajuína. Falando da candidatura de Ludmila Fiscina, criticando a administração do seu pai etc, não poupou ninguém. Ele mora na Chapada Diamantina e de longe, virtualmente, sem depender do jogo de "prestígio" da cidade, se deu ao luxo de falar o que muitos pensam e se calam para não serem cancelados, por quem? pelos donos do poder econômico, que têm a batuta para reger essa orquestra, chamada de sociedade.
Eu vejo o eleitor nesse pleito totalmente aturdido. Observa os artistas e intelectuais e grandes lideranças políticas, sindicais, religiosas, professores, advogados e médicos etc defendendo o ex-preso por corrupção, a maior de nossa história e uma das maiores do mundo. De outro lado, vê um presidente bizarro, não obstante eficiente na economia e em infraestrutura, contudo um desastre, como os demais presidentes da redemocratização, em saúde, educação, cultura e em segurança pública.
Aqui em Alagoinhas, a situação é de deixar o eleitor zonzo. Ludmila tem bons predicados para ser uma boa deputada, mas - olha o "mas" - representa a continuidade de um projeto político que não se renovou. Paulo César também tem dificuldade de trazer novas ideias para o campo político. Radiovaldo e Joseíldo fazem parte desse pseudossocialismo, vinculado à elite estamental. Ainda é a elite adoçando a boca dos miseráveis com falsas promessas. Sem contar que ambos se consideram os suprainteligentes, mas nenhuma boa ideia se sabe ter saído de suas cabeças grandes.
Paulo Azi poderia se aproximar mais da cidade, ainda vive consumido pela trajetória de Jairo Azi, sem razão nenhuma. Se ACM Neto vencer, ele será o nome político forte da cidade, tomara que se aproxime das pessoas competentes daqui e traga outros competentes de fora e que quebre, por essa via, com nosso provincianismo.
Luma Menezes se vincula às pautas identitárias, que na realidade vão favorecer a formação de uma nova elite(classe média) mais feminina, preta e gay. Mas o pobre gay, o gay preto e pobre, a mulher pobre e preta e os héteros pobres e, sobretudo, pretos(as), estes continuarão debaixo da mesa da elite, esperando que dela caia alguma migalha.
Alguém mais? O eleitor nem sabe porque está votando. Antes existia aquela busca de se chegar ao ideal de eleger o mais competente e honesto, até isso foi tirado dele - é uma verdadeira corrida maluca, onde o dinheiro falará ainda mais alto. Ao pobre resta esperar pela renda mínima e chamar por Deus, a cleptocracia está se consolidando, a democracia é de fachada(carta pela democracia, quanto cinismo), a China e os megacapitalistas lideram o mundo, os EUA estão se latinizando no mau sentido do termo, a Europa procura se apegar aos seus privilégios, seguindo o líder e o cheiro do vil metal.
A África é o continente perdido, sua maior aspiração é sair da miséria e entrar na pobreza, para eles já seria um avanço. Mas lá também tem uma classe média que vive muito bem. Concordo com Marilena Chauí, o problema é a classe média, só que ela e seu partido ( o PT) têm um projeto classe média em curso. Na boca da filósofa, essa fala se torna esquizofrênica. Cleptocracia e esquizofrenia é o que nos aguarda. Os países da América do Sul estão quebrando com os governos pseudossocialistas - capitalismo de estado. O Brasil, com todos os perrengues, é responsável por 50% do PIB do continente. E então? Dizia Marcelo Nova: "é preciso ter cultura para cuspir na estrutura".
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