Cultura e jornalismo agonizam em Alagoinhas
Sinto o jornalismo como um animal em extinção. No interior, a situação sempre foi mais complicada e agora nestes tempos em que a grande imprensa nacional deixa de fazer jornalismo para fazer militância política, e este é um fenômeno global, a coisa fica bem pior. O jornalismo venal é cometido sem o menor escrúpulo. Ele sempre existiu, mas sempre foi criticado, agora ele é modelo a seguir.
Criticar é a ação fundamental do jornalismo. Aqui em Alagoinhas, a crítica à atividade pública ou política, especificamente, é tratada como ofensa pessoal. Os políticos estão livres para agir à vontade, até para agredir jornalista fisicamente e processá-los. O modo tirânico foi ativado. Pensar não é mais necessário, seguir a narrativa que lhe conduzirá ao sucesso é a lei. A sociedade é pragmática, a política, ainda mais.
Acho que o pragmatismo político contaminou a sociedade. Jacilena Andrade, sobre a qual fiz matéria recente, se queixou em entrevista ao Intera, na semana passada, da desarticulação do movimento social, da sociefade civil organizada. Toda a luta contra a miséria - física e espiritual, pela educação e pela cultura, o aracabouço da sociedade civil organizada, se reduziu às pautas identitárias, que não agregam nem congregam por estarem terrivelmente radicalizadas e aparelhadas. Viraram também um comércio - com toda a boa intenção de muitos que estão lá.
O jornalismo se tornou venal e, para manter a imagem de pilar da democracia, se tornou superficial, pautado pelas elites política e econômica. Ou você segue a pauta e tem sucesso ou você será cancelado e jogado ao fracasso total, sem a mínima possibilidade de sobreviver sequer. O jornalismo nasce do suporte da classe empresarial assim como as artes de certo modo. Em Alagoinhas, os empresários nunca se preocuparam com as artes e quanto ao jornalismo, atuam veladamente para silenciá-lo, domesticá-lo ou até sufocá-lo. É um jornalismo encabrestado.
Existe, em Alagoinhas, um compadrio nefasto entre a claasse política e os empresários. Professora Jacilena é uma visionária com alta sensibilidade social. Ela cravou que só existe militância social com o fortalecimento da cultura e com a imprensa livre. A cultura regrediu e o jornalismo foi se tornando mais e mais vendido - comercial. Existem aqueles que não se reconhecem jornalistas, mas querem vestir a camisa da imprensa local, é antes uma contradição, que um disfarce. Imprensa é o coletivo de jornalistas.
Fazem ainda jornalismo o pessoal da radioweb 2 de Julho, Rayner do Intera e agora, Ìcaro Pereira. Claudio Pinto e Vanderley Soares entram na lista dos heróis da resistência. Belmiro Deusdete é nosso farol. O alerta que Jacilena fez nesta última semana é muito sério, para onde vamos sem cultura e sem imprensa livre?
A Fonte dos Padres é um grande retrato da nossa convivência social pragmática, da nossa conivência. Passou-se de novo o trator, retirando sua mata ciliar. Já tem aparência de esgoto, certamente que está sendo preparada para virar uma galeria de macrodrenagem, que é macro, mas ainda continua misturando água de chuva e esgoto.
Vejo a Fonte dos Padres e me lembro do nosso jornalismo: o que existe ainda de rio ali? um nada. O que existe de jornalismo em nossa "imprensa"? Os empresários precisam tirar o pé de cima do pescoço do jornalismo, e lhe estender a mão, parar de ditar a pauta social e rever este funesto compadrio com a classe política.
Já existem verbas públicas federais para a cultura, mas que só chegam para as panelinhas, para uma elite cultural - os artistas também deixam de fazer arte para se dedicar à panfletagem política. O Estado investe pouco e o município, quase nada. Façamos algo pela verdadeira cultura e pelo jornalismo. Ou o homem será cada vez mais o lobo do homem.
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