Conclave mais lacrador que Emília Perez

 



Quem pretende assistir ao Conclave comvém não ler este artigo, ele contém um mega spoiler, conta o final do filme, que é a única maneira de analisá-lo plenamente. Contudo acredito que mesmo sabendo o final da estória, não se perderá muito do prazer de sentar em frente à tela para vê-lo. Como se trata da eleição do novo Papa, certamente vai tirar o suspense que toda disputa por cargo encerra. Fica a seu crítério.


O filme é todo bem cuidado, com excelente fotografia, bom tratamento da luz, enquadramento ok. composíção idem e boas atuações. A narrativa começa com o elemento surpresa do surgimento de um cardeal do Afeganistão, latinoamericano, que foi ordenado em segredo pelo Papa, agora falecido. No final, há uma explosão, fruto de um ato terrorista de um imigrante do Oriente Médio, que atinge o vitral (janela) da capela onde está se realizando o Conclave.


A disputa em curso envolve a ala conservadora e a ala progressista. Tudo o que permeia a igreja atual. O cardeal ultraconservador faz um discurso anti-emigração e defende que se trave uma "guerra" contra o anvanço do Islã na europa. É a deixa para o cardeal do Afeganistão, que também havia servido no Congo, fazer um discurso pela paz com todo a sua autoridade - lugar de fala - de ter convivido com zonas de guerra. 


Termina que na rodada de escolhas seguinte, ele obtém a maioria dos votos e se torna Papa. Até aí você pensa que o filme terminará com um diálogo emblemático ou com o suicídio do cardeal conservador ou com a criação de uma igreja conservadora dissidente. Como se não fosse o bastante, o cardeal revela-se um hermafrodita - possui partes do aparelho reprodutor feminino e masculino.


Já virou cliché, quando se quer abordar a questão da transexualidade, mas não se quer chocar demais o espectador, se coloca a figura do hermafrodita para representá-lo. Se a biologia criou a transexualidade, logo a orientação sexual se legitima. O malabarismo do roteiro é que é interessante, um cardeal desconhecido, por um discurso de 1 minuto, convence um grupo de cardeais, que já se conhecem há anos, de que este estranho no ninho merece a confiança para exercer o cargo religioso mais relevante do planeta e ser o guia de milhões de almas. Nada mais woke que desprezar a lógica. "Se a lógica nos contesta, pior para a lógica", dizem.


Esta é a prova de que Hollywood é woke e o Oscar é woke. Até O Brutalista, que conta a história de um arquiteto europeu aventurando-se como foragido da guerra na América, tem seu momento woke. O empresário rico e insensível, branco claro, o estupra enquanto estava drogado e bêbado. Anora é uma defesa das prostitutas. A Substância, uma crítica aos padrões estéticos e ao etarismo. O filme brasileiro não é woke, mas serve como propaganda para a esquerda, a fortalece.


O grande filme da noite seria Emília Perez, para premiar uma atriz trans, plano sabotado pelos twitters racistas e xenófobos da própria atriz trans, Karla Sofia Gascon. A forma como os roteiros são ruins, o apelo a uma linguagem pós-moderna forçada, que esconde as atuações fracas, tudo mostra que a intenção da arte hoje é política identitária e comportamental. Em outros tempos, Walter Salles diria que seu filme é uma crítica às ditaduras, mas ele centrou fogo em Trump e em Bolsonaro, nas suas entrevistas - não pode criticar os chineses, a Venezuela, a Rússia. 


Hollywood deu um passo atrás na tendência de substituir personagens clássicos brancos e héteros por personagens gays e de outras etnias. De trocar o personagem homem branco por uma mulher ou uma mulher negra ou trans. Porcuraram este ano, um caminho um pouco mais inteligente e sutil, mas olhando o contexto, a militância é igual. Abordam as temáticas, mas não de maneira franca, o fazem de forma imperceptível e solapista.


Acho que a polarização em si é o que existe de prejudicial, essa divisão do mundo entre progressistas e conservadores. O mais perogoso é que ambos os lados não veem que isto é uma estratégia do CAPITALISMO DE ESTADO, promovido pela China e pelos capitalistas que lá operam. 


Existe espaço para todos. Para gays e conservadores, negros, indianos, islâmicos, para todos os gêneros, raças e credos. E tanto os conservadores quanto os progressistas estão certos e errados ao mesmo tempo, como em todo impasse. Que encontremos logo as sínteses para estes polos antagônicos. Deixando claro que sou a favor de todas as pautas progressistas, só discordo do movimento woke, que para mim é um sequestro da esquerda de tais demandas legítimas.

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