Revolução, como fazer uma

 


Por Paulo Dias

Drt/Ba 1903


Esse é um texto que fecha uma singela trilogia, que começou com o "Nosso abismo moral", seguiu com "Gays/Lésbicas+, mulheres e pretos". Esses trabalhos tiveram o impulsionamento bem menor do que a maioria das matérias que criticavam o prefeito. Isto prova que meu público é majoritariamente de esquerda, como boa parte dos meus amigos, afinal eu mesmo fui esquerdista por mais de 20 anos.


No texto sobre as minorias (questões identitárias), fiz generalizações que parecem indevidas e injustas, mas tudo como um recurso pedagógico. É claro que no movimento existem lideranças genuínas e bem intencionadas. O problema é a própria estrutura da esquerda que é elitista e centralizadora. Enfim, a crítica não foi a pessoas, mas ao sistema.


Mas vamos ao tema: como se faz uma revolução? Claro que o assunto demandaria anos de estudo e a produção de pelo menos uma dezena de livros. A intenção aqui é apenas revelar a condição básica de toda a revolução e criar uma reflexão sobre isso. Garanto que essa abordagem terá a capacidade de eliminar todo o romantismo e ingenuidade em torno do tema e dará outro norte para sua militância.


É preciso falar desse ponto, porque também as grandes lideranças o guardam como grande segredo e vejo que a massa da militância, e principalmente dos simpatizantes, o ignora ou não lhe dá a devida importância.


Uma revolução se inicia o com DIVISÃO DAS FORÇAS ARMADAS. Aquela história de que Lenin isso, Lenin aquilo, que os os sovietes, os bolcheviques... Que Fidel com apenas 12 homens fez e aconteceu. Balela. Fidel só desceu da Serra Maestra quando soube que as forças armadas estavam dominadas - divididas.


As greves, a doutrinação das massas, a guerra cultural e até as guerrilhas ... tudo isso é preparação para criar as condições das forças armadas se dividirem, no futuro próximo, implantando a dúvida ideológica dentro dos quartéis e colocando lá também, claro, simpatizantes naturais da causa. Simplesmente porque o grosso das forças armadas é composta da parcela mais pobre e excluída da sociedade. Gerando um movimento político de massa, se consegue uma doutrinação orgânica das forças armadas. Evita-se a abordagem direta, que teria pouca ou nenhuma eficiência.


Como também se prepara o caos social a partir das greves, manifestações, guerrilhas e grandes comícios. O soldado dissidente terá a certeza, pela a atmosfera criada bem antes, que está lutando pelo mais legítimo interesse do povo. E se nas manifestações e greves,  houver uma morte ou de preferência algumas, o racha nas forças armadas estará mais que garantido.


As próprias forças armadas distribuem armas para o povo, e, para dar mais legitimidade ao movimento, o povo as empunha. A parte das forças armadas que ainda não aderiu à insurgência não vai querer atirar no próprio povo, nos seus iguais, aí a revolução chega ao seu clímax. 


Mas a classe média intelectual não pegará em armas, estará protegida nos quartéis generais da revolução  ou presa - o que é uma grande vantagem, melhor que se arriscar a tomar um tiro, quem fará isso são os pobres, sempre os pobres. Mas a elite do novo governo será formada pela classe média, sem a menor dúvida.


Sabendo disso, a tese que em 1964 havia a iminência de um movimento revolucionário no país pode ter sido real. No início do Golpe Militar, Brizola mencionou que setores das forças armadas eram leais ao presidente, que havia a chance de resistir, o que resultaria em uma guerra civil, que Jango descartou. 


Na intentona comunista, em 1935, se contava com a adesão das forças armadas e essa era uma condição básica para se dar o levante, como fica bem claro no filme OLGA. Em sua narrativa, quando Carlos Prestes percebe que não terá esse apoio almejado, ele considera como fracassada a pretensa revolução.


Por isso é fácil para a classe média hoje pregar o socialismo, não é ela que vai lutar de verdade. De outro lado, não haverá socialismo, no máximo colonialismo chinês ou melhor, capitalismo de estado, que é mais vantajoso ainda para a classe média. Isso pode ser conquistado pelo voto e pela corrupção, dessa vez nem os pobres vão morrer, só continuarão pobres.

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