Julho das Pretas viabiliza debates em quilombos para ações de governo






As mulheres do território quilombola de Oiteiro já participaram, na última terça-feira (19), de um bate-papo sobre empoderamento feminino, com apresentação da Rede de Proteção à Mulher e produziram importantes reflexões sobre o papel preponderante de personalidades negras na história do Brasil. A programação faz parte do Julho das Pretas: Apagamento e Invisibilidade Nunca Mais, que, durante toda a semana, estará transitando pelas comunidades quilombolas do município. 


Nesta quarta-feira (20), as moradoras das comunidades quilombolas de Cangula e Buri também se reuniram para essa troca de informações, colocando a realidade por elas vivenciada, para assim intensificar relações que resultem em meios de construção de uma existência plenamente emancipadora.


 Figuras marcantes como Lélia Gonzagues, Dandara dos Palmares, Tereza de Benguela e Carolina de Jesus foram lembradas no encontro. “ Essas mulheres tiveram suas lutas invisibilizadas, por meio de um apagamento estratégico, então é preciso que façamos um resgate histórico”, disse a coordenadora de Políticas de Proteção à Mulher, Jamile Oliveira.


O Julho das Pretas, segundo o Instituto Odara, é uma ação que institui um momento de incidência política e se propõe a construir uma agenda conjunta e propositiva a partir da organização e do movimento de mulheres negras do Brasil, voltadas para o fortalecimento da ação coletiva e autônoma  nas diversas esferas da sociedade. A ação foi criada em 2013, pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, e celebra o 25 de Julho, como o Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latina Americana e Caribenha.


Esse evento todos os anos traz temas importantes e necessários relacionados à superação das desigualdades de gênero e raça, evidenciando as pautas e agendas nas diversas esferas de poder e de decisão dentro desse contexto.


Ao tratar de relações abusivas que vitimam as mulheres, a Coordenadora da SEMAS informou que, em Alagoinhas, 80% dos casos atingem as negras. E complementou: “A maioria trabalha sem carteira assinada e é refém do companheiro”.


As atividades do Julho das Pretas foram organizadas pela da Secretaria de Assistência Social (SEMAS), em parceria com o Conselho de Mulheres e o Conselho do Desenvolvimento da Comunidade Negra e Afrodescendente de Alagoinhas, e visa ampliar o diálogo, desenvolver ações e reforçar a luta das mulheres negras.


Segundo a presidente da Associação, Maria de Lourdes de Jesus, que tem 77 anos de idade e sempre morou na comunidade quilombola,  as mulheres negras se destacam pela sua “fibra e garra. Somos mulheres batalhadoras. Se a gente não dá o nosso valor, ninguém vai dar. Temos que ter orgulho da nossa cor e da nossa comunidade”.


Sileia de Jesus dos Santos, mãe de duas filhas, um de 4 e outra de 7 anos, reiterou que “as mulheres não devem abaixar a cabeça para tudo que o homem fala. Estamos no século 21 e isso tem que acabar!”.


Para encorajar as possíveis vítimas de violência a procurarem ajuda, foi reforçado o papel do Centro de Referência à Mulher – CRAM no acompanhamento psicológico e jurídico necessário para a superação de relações abusivas, assim como a existência, na cidade, da Casa de Acolhimento Provisório para Mulheres em Situação de Violência e da Ouvidoria para Elas. O papel do Ministério Público, da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) e da Patrulha Maria da Penha também foi esclarecido. “Além da Rede de Proteção, a SEMAS dispõe do Programa Qualifica Alagoinhas, com oficinas de geração de renda, para desenvolver a autonomia financeira e o empoderamento dessa mulher”.


O Coordenador de Políticas Raciais da SEMAS, Leandro Santos, lembrou que esse mês dedicado a conscientização, expressão e elaboração de políticas públicas para a mulher negra acontece em Alagoinhas desde 2017 e destacou a campanha como fundamental para aumentar a força de reação dessas pessoas subalternizadas especificamente. “No entanto, essa luta deve acontecer todos os meses do ano”. Em uma verdadeira aula de História, Leandro trouxe detalhes das batalhas empreendidas por Tereza de Benguela, que ilustra a Mostra Tereza Vive, que acontecerá no dia 27 de julho, no Centro Integrado de Assistência Social (CIAS), às 8h30. Leandro também reiterou o significado da palavra Quilombo, enquanto agrupamento de pessoas e lugar de resgate de forças de um povo escravizado.


Representando a Procuradoria Especial da Mulher implantada na Câmara de Vereadores, Camila Pereira comentou que a Rede de Atendimento à Mulher, de Alagoinhas, é uma das mais completas do estado. Ela ainda comentou sobre a crescente representatividade de mulheres negras no jornalismo. “ O lugar da mulher negra é onde ela quiser”.


Baseado em release produzido pela Secom/PMA

Foto: Roberto Fonseca
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