A goleada de Portugal e a dialética de Hegel/Marx
Se alguns amigos me pedissem para lhes explicar de maneira simples a dialética de Hegel ou se fosse dar uma aula para alunos do segundo grau sobre esse assunto, aporveitaria a goleada de portugal sobre a Suiça por 6X1. Começaria esclarecendo que o que chamam de dialética hegeliana e marxista por consequência, a famosa "tese-antítese - síntese é simplismente a idealista dualista dialética platônica/arsitotélica. A dialética de Hegel confronta níveis de consciência e realidade, o mundo sensório.
Vocês vão entender, calma, estamos só no início. Importante afirmar que a dialética de Marx é a mesma que a de Hegel, só que Marx, tentando superar sua parcela idealista, estrategicamente não dá crédito a sua fonte. Marx foi heheliano na juventude. Ele apenas inverteu a dialética de Hegel, mas a dinâmica é a mesma: uma consciência que evolui, se desaliena, em seu contato com a realidade.
A "consciência alienada" de Hegel é aquela que não se compreende como espírito absoluto. Para Marx a consciência alienada é aquela que nâo se reconhece como proletariado, criador de riqueza e ser genérico universal. Para Marx a consciência se eleva, supera a alienação na prática para instituir a sociedade comunista. Só a prática, o contato com a realidade transforma a consciência ou a desaliena. Hegel diz a mesmíssima coisa.
O individuo(sua consciência) só deixa o campo dos desejos e necessidades imediatas e das abstrações ( intelectuais) confrontando suas ideias(conceitos e leis gerais e teorias) com o mundo real sensível, assim passa ser um cidadão alguém reconhecido pelo estado e por ele protegido e que atua em função do fortalecimento institucional, o estado pleno é a materialização do espírito absoluto. Veja que a contradição consciência/realidade é o motor da elevação da consciência para se compreender como espirito absoluto em si e para si.
A consciência abstrata e presa aos desejos e necessidade imediatas é alienada, se acha um estranho perante o mundo, algo que está fora do mundo. Esse estranhamento é mesmo sentido pelo proletariado que não se reconhece nos objetos que produz, no mercado e no mundo regido por ele, tudo se lhe confronta como uma ameaça. Marx foi além de Hegel pois inseriu no campo da consciência a exploração pela iniciativa privada.
Lembrem-se que já falei em outro texto que Marx considera que o ser humano, o gênero humano, é o trabalhador(proletariado) na fruição plena do seu trabalho. O estado para Marx não é o fim da dialética( eda história), ele não materializa o espirito absoluto, mas corporifica o sistema de exploração, é um mecanismo ideológico, que são as ideias produzidas para manter a alienação e constituí-la. Como os anarquistas, Marx defende a superação do estado burguês.
O resgate desse ser humano é o motor que rege a realidade e as consciências, o equivalente ao espirito absoluto de Hegel. Como o espírito absoluto é uma abstração para Marx, ele criticou duramente Hegel como mais um idealista. Do contrário, o trabalhador como elemento universal impulsiona a história. De fato, trata-se da mesma dialética, só que Marx foca nas realidade material, enquanto Hegel não chega plenamente a ela, não enxerga a contrdição de classe e sua condição de elemento motor. Para mim, Marx é continuador de Hegel pois faz a sua consciência(a do filósofo que lhe antecedeu) entrar na derradeira contradição, mostrando sua alienação.
O que isso tem a ver com a goleada de Portugal. Vejam bem, os comentaristas esportivos diziam que os grandes favoritos para ganhar o título da Copa do Mundo eram Brasil, França, Inglaterra, Espanha e Argentina e Portugal por terem Messi e Cristiano Ronaldo. Esse era o nível de consciência deles que terminava influenciando toda uma população. Semelhante a relação dos intelectuais com o povo. Com a goleada ouve um choque(contradição) com a realidade. Os comentaristas se perceberam em estado de alienação e de estranhamento com a realidade.
O "espírito futebolístico" operou tanto na realidade material como nas consciências. Eles tiveram que alterar os conceitos/teses com que avaliaram a seleção de Portugal, e com que estavam categorizando a seleção da Suiça, bem como as ditas favoritas. Uma outra consciência surgiu mais elevada ou superior, dessa contradição com a realidade. A consciência se eleva com o sentimento de estranhamento com a realidade. Por isso Hegel e Marx estão certos em suas dialéticas, que é a mesma dialética. Reafirmando, Marx aperfeiçou a dialética de Hegel.
Lacan também opera dialéticamente na relação do eu e do outro, do eu partido, por não se reconhecer no outro e não reconhecer o outro em si. Para os pesquisadores fica uma dica: é preciso incorporar o a dialética hegeliana/marxista no rizoma e no corpo sem orgão de Deleuze e entender que a dialética binária é platônica e aristótelica e que o corte das seriações são dialéticos e que a dialética se enriquece como o devir da diferença e repe
tição.
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