Como é difícil hoje escrever uma mensagem de Natal ou o último anarquista - para a Gazeta dos Municípios

 





Por Paulo Dias,

Drt-Ba 1903

Para a Gazeta dos Municípios


Estamos em um mundo em guerra, dividido e faminto. Há pouco tempo se completaria esta constatação com um cliché, “o mundo precisa mais de Cristo no coração”. Mas hoje é o Cristo que está no centro da polêmica. Existe um Cristo progressista de esquerda e outro conservador. Os dez mandamentos estão caindo por terra. Não matarás… quando milhares vão às ruas comemorar o aborto, outros defendem o Hamas, um certo tanto Israel, Ucrânia, Rússia.


A paz é tão simples.


Judeus e palestinos têm direitos iguais sobre aquele território, deveria ser um só país. Russos e Ucranianos são primos. Existem regiões na Ucrânia que são de maioria russa, por que não inventar um termo na geografia para isto?


Os dez mandamentos estão em queda livre, bom e ruim, o adultério não é mais motivo de escândalo e deixa de ser uma exceção horrível para ser quase uma regra admissível, “quem não traiu ou foi traído que atire a primeira pedra”. No senso comum, o adultério não é mais pecado, e eu acho isto bom. O ruim da traição é a mentira, para não mentir basta ter a coragem de não se prometer fidelidade. A mentira leva ao cinismo, este é um pecado terrível.


O amor gay não é santo? Como podemos afirmar tal coisa? Como estranharmos o sexo gay, se casais héteros o praticam e o desejam cada vez mais?


Nunca resolvemos o problema da África, nem dos favelados, nem dos moradores de rua. Como ousamos nos congregar em nome do amor cristão? Melhor ofuscá-lo com o papai noel.


Esta parece uma mensagem de Natal falando de desamor e desesperança, mas não, está falando de amor e esperança, que nascem na terra árida do Cristo, do Nordeste, da África e dos nossos corações.


Por que as mulheres não podem rezar a missa, como uma religião de amor pode ser misógina depois de ser cruelmente homofóbica?


A única coisa certa que os conservadores falam é que a Igreja não pode se transformar em uma ONG. Ela deve ser espírito, inspiradora das ONGS, que devem sair do pecado da corrupção. E a Igreja não pode se confundir com o Estado, jogar em suas costas a atribuição governamental. Este é o ardil que se agrega como um combo à tese da Igreja inclusiva. Igreja inclusiva sim, mas não marxista.


Voltamos aos 10 mandamentos. Não roubarás. Corrupção é roubo. Como corruptos se acham no direito de propor mudanças para a Igreja, deixem isto para os honestos e éticos, por uma questão de coerência, amor Cristão não pode ser condescendência. Corrupção mata e aleija. Como podemos ser um dos países mais cristãos e um dos mais corruptos ao mesmo tempo? Existe muito pouco cristianismo aqui.


Esta é uma mensagem natalina espinhosa. Dura, ácida… emparedante. Mas acho que é neste deserto que encontraremos o Cristo, o gozo compartilhado, algo superior ao egoístico prazer. Psicanaliticamente falando, prazer e gozo não são sinônimos. No terço rezamos os “mistérios gozosos”*, eis o Cristo que une este ao amor cósmico. Feliz Natal. Eu sou o último anarquista.



*Nos mistérios gozosos transparece a alegria da salvação prometida por Deus e salvação essa que agora se concretiza e nos oferece, como um farol, um caminho ou uma meta para onde a humanidade deve caminhar.

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