Caetano Veloso é genial, nem sua atuação política equivocada mudará isto
Assisti a algumas entrevistas concedidas por Caetano Veloso que encontrei no youtube. Em uma do programa Ensaio (Ensaio | Caetano Veloso (youtube.com), ele faz uma trajetória da sua obra e da canção popular brasielira, na qual você percebe bem seu conhecimento do assunto e a sua contribuição para esta estética de maneira consciente.
Sem dúvida Chico Buarque é um gênio, mas pode ver, ele se limitou ao samba, Gil é outro gênio que seguiu uma vertente afro no que ela tem de percussiva e daçante e uma reflexão filosófica com uma semântica da lógica modernista. Caetano é o gênio inovador da nossa música. Por tudo isto é pequeno questionar as últimas escolhas políticas do artista. É apenas triste vê-lo se equivocando tanto. De Gil não se espera grande coisa e Chico sempre foi aquele cara classe média fascinado por uma malandragem mítica.
Tudo que Caetano explorou ainda não foi sequer em parte experimentado pelas novas gerações. Ele entende bem como João Gilberto, Johnny Alf e Tom Jobim criaram a base harmônica de nossa música e como transportaram para ela toda a tradição do samba, abrindo caminho para demais expressões regionais. Pode-se dizer um porém de Caetano, que ele é marcado demais pela música negra litorânea e que pouco tem ou traz de nordestino, do centro-oeste e que do sul passa longe, mas o seu experimentalismo está em todas as roupagens feitas na música regional pelo país. Nada mais coerente e procedente, cada um com suas raízes e influências.
Caetano soube dialogar com a música brega, colocando-a em uma embalagem sofisticada para o bem e para o mal. Nesta entrevista a que me refiro, ele fala da crítica de Jorge Mautner a esta tendência de virar as costas para as produções popularescas, mostrando uma elite aversa a esta visceralidade. Lobão também faz uma crítica justa à MPB, ele mesmo em suas canções segue outros caminhos, diversos do bossanovismo. Recentemente, Caetano colocou um peso mais rock'n roll nos arranjos, chegou perto ou mas ainda distante, não é a dele. Uma coisa importante a se registrar, Caetano nunca se acomodou aos antigos sucessos, sempre produzindo novas músicas, expandindo sempre seus horizontes.
O que quero dizer então? que Caetano foi/é determinante e não é? Quase isto, ele ajuda a empurrar a música adiante, mas não faz isto sozinho. Tom Zé, Antonio Nóbrega, Chico Science, Zé Ramalho etc fazem isto nordestinamente, outros pelo sul, Pato Fu , Milton etc, Vander Lee em Minas. Yamadú Costa no nosso violão. Esta influência da arte moderna ocorreu no mundo todo. Só quero afirmar o quanto Caetano representou neste aspecto. Caetano por ter intelectualizado sua música, não consegue a naturalidade de Noel Rosa, de um Cartola, de um Jackson do Pandeiro e da música pop internacional. Ele sabe disto, tanto que já o vi se queixando muito disto, contudo este tom menor não afeta sua genialidade. Eu acho Caetano o maior do Brasil.
Quanto à política, gostava mais de sua posição anarquista, criticando o capitalismo e, sempre que cabia, alfinetando a esquerda retrógrada, estava afinado naquela época. O fato de ter uma mulher empresariando no meio torceu seu discernimento, fazer o quê? Apreciá-lo como artista, valorizar tudo que fez e torcer que faça mais para nossa alegria, alegria.
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