Disputa no interior da classe média é que gera polarização
Como as nuvens escuras que se formam lentamente anuunciando a chuva, foi assim que se desenvolveu a polarização política no Brasil. Pergunto-me se o mesmo ocorreu na Europa, nos EUA e na América Latina. O fenômeno é o mesmo, as causas e os contextos devem ser, pelo menos, equivalentes. Aqui tivemos um racha na classe média. A classe média tradicional se vinculou à classe média baixa emergente (vinda da pobreza), constituída pelos egressos dos cursos de humanas do ensino superior públco, aí se formou o estofo para o novo socialismo e para o progressismo.
Como se formou a ala conservadora? Com o setor de exatas das mesmas universidades, junto com os estudantes e egressos das faculdades privadas. Na onda esquerdista, iniciada pela ascensão do PT ao poder, estes dois segmentos da classe média estavam unidos. Só que o primeiro se aboletou nos cargos públicos, era mais próximo dos militantes e dos petistas de primeira ordem - formaram o estamento de esquerda. Este primeiro segmento de emergentes graduados unidos oportunamente com a classe média tradicional branca veio a compor a classe média alta e parte da classe média intermediária, nela estavam inseridos os produtores de cultura, estes ainda mais voltados às pautas identitárias e ao progressismo.
O segmento constituído pelos egressos das faculdades privadas se direcionou para a iniciativa privada. Os prestadores de serviço montaram seus próprios negócios e se encontraram no meio do caminho com outros autônomos, pequenos vendedores e ambulantes que, com muito esforço, chegaram à classe média empreendendo. Se inclinaram para as religiões evangélicas muito pela teologia da prosperidade e pelos valores da família, não tinham tempo para o prazer livre. Compuseram a classe média intermediária e baixa. - a classse média que rala. Na primeira vitória do Lula, todos estavam fartos da direita remanescente do regime ditatorial militar, todos queriam mudanças, estas vertentes estavam unidas.
Quando o modelo petista se mostrou mais do mesmo em vários aspectos e até bem mais corrupto, houve uma revolta a todos que representavam aquele discurso vazio com ar de sofisticação que sustentou e sustentava todas as práticas deletérias que vieram à tona com o petrolão, investigado pela Lava Jato. Um discurso entoado justamente pelos oriundos dos cursos de humanas das universidades públicas, os diretamente beneficiados pelo governo de esquerda, o estamento de esquerda e militantes das pautas identitárias. Quero com isto dizer que a luta não é pelo socialismo, mas por posicionamento no campo da classe média, como bem ensinou Bourdieu. Que fique claro que é tudo por dinheiro.
O controle do ESTAMENTO é que está em jogo, não tem a ver verdadeiramente com libertação do proletariado, com o direito das mulheres, gays e pretos. Sou super a favor das pautas identitárias, mas a luta travada, como disse, tem outros interesses menos nobres. Só isto, a mulher pobre, o gay pobre e o preto pobre continuarão se ferrando. Vão se dar bem sempre a mulher classe média, o gay classe média e o preto classe média, os de esquerda, claro. Salientando que considero necessária uma mudança de posição dos conservadores que seguem a Bíblia ao pé da letra, como se de fato fosse a palavra de Deus e não um livro inspirado por Deus apenas.
Nesse momento de deslilusão com a esuqerda, houve o racha na classe média. Com a forte contribuição das pautas identitárias que foram o ingrediente que faltava para demarcar a separação política dos dois grupos da classe média. Em outras nações, você verá a classe média alta - sobretudo os que ascenderam da pobreza ou das classes médias intermediária e baixa - se afinando com a esquerda, muito porque parte dos seus membros pertencem ao estamento burocrático. E a classe média dos self made men - dos autônomos e ambulantes que montaram comércio - mais conservadora.
Daí veio CAPITALISMO DE ESTADO, prmovido pela China e pelos megacapitalistas que lá atuam, para colocar água quente na fervura e tornar o cisma ainda mais abrasivo. Os dois segmentos da classe média estão quase em luta fratricida, simplesmente por posição e grana e os pobres, os milhões de pobres, os 85% da população, estes são enganados por ambos os lados e vão ficar na mesma, sobretudo em um país corrupto como o nosso. As chances de romper com o círculo vicioso são muito pequenas, infiltrando pessoas éticas e competentes nos cargos eletivos de decisão.
Nos EUA, os estados historicamente com menor mobilidade social, mais agrários e moldados pela forte influência religiosa cristã são conservadores. Na Europa, creio que houve a mesma divisão da classe média com suas peculiaridades. De modo mais grosseiro, pode-se também dizer que artistas, profissionais liberais e funcionários públicos são mais à esquerda, e os microempresários que ascenderam a custa de seu próprio suor são mais à direita. Tudo é um misto de fatores econômicos e religiosos, o velho Max Weber parece que estava certo.
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