Debate da Boa FM, mais crítico e mais retórico

 

Para hierarquizar as ideias em confronto, no debate promovido pela rádio da Boa Fm, ontem, 01, na Câmara de Vereadores, melhor começar de trás para frente. Ficou bem claro que no evento estavam presentes uma candidatura, de Gustavo Carmo (PSD), que representa o fortalecimento dos grupos que estão no poder nas três esferas de governo, municipal, estadual e federal, e duas tendências alternativas, uma à esquerda, de Ednaldo Sacramento do PSTU e outra à direita, de Leandro Sanson do partido Novo.





Ednaldo Sacramento, na reta final da campanha, no término do debate, acertou o discurso. Ele analisou que a atual disputa eleitoral trata-se do embate daqueles que governaram Alagoinhas nos últimos 24 anos. Duas lideranças de direita, defensoras do capitalismo, Paulo Cezar e Joaquim Neto, e uma do PT, Joseíldo Ramos, partido que, segundo ele, se colocava no passado como de esquerda. Houve a fusão do grupo petista com o de Neto. Então, o PSTU se lançou no pleito como uma alternativa genuinamente de esquerda – só que isto deveria ser martelado durante a campanha toda, estranhamente não o fez. Acertadamente, Sacramento afirmou que os problemas atuais são as consequências dos erros destas três últimas gestões.



Desde o início com esta linha de pensamento, Leandro Sanson, contundente como um esquerdista, mas liberal, cravou que Alagoinhas viveu mais de duas décadas sob as velhas oligarquias e suas políticas de conchavo e do toma-lá- dá-cá . Gustavo Carmo usou a retórica do “time unido” pelo futuro de Alagoinhas, colocado como algo inédito, só que não. Esse alinhamento já ocorreu com Joseíldo Ramos e com Paulo Cezar, este último conseguiu de longe mais recursos dos Governos Estadual e Federal, que o primeiro, hoje, apoiador de Carmo. O candidato do PSD, no debate e em toda a campanha, tentou se desvencilhar da administração de Joaquim Neto, contraditório, já que se trata de um “time unido”.



O entrevero mais quente do evento foi protagonizado por Leandro Sanson e Gustavo Carmo. Sanson mencionou que suspeitas de superfaturamento pensavam sobre a gestão de Gustavo, quando secretário de Educação. Carmo afirmou que este estava mentindo, que, por não ser da cidade, não estava a par de sua vida e da reputação ilibada que goza perante os seus moradores. Gustavo usou duas perguntas para bater na corrupção de PC, que já foi condenado em primeira instância judicial, em um total de 27 processos abertos contra ele. Ednaldo Sacramento, respondendo a uma destas perguntas, reafirmou a ideia central do seu plano de governo, a primeirização. O socialista avaliou que as terceirizações é que são as portas para a corrupção. Contudo a prefeitura não vai abarcar toda  cadeia produtiva, haverá fornecedores, e estes também são portas para a má  versação dos recursos.



Deixando também para reta final da campanha, Ednaldo criticou o PT, com muita parcimônia, diga-se. Esclareceu que vai governar por conselhos populares, responsáveis por definir o orçamento, as prioridades, a alocação de recursos, os princípios, pressupostos. os métodos administrativos e a própria estrutura organizacional. Isto de fato combaterá a corrupção e, como afirmou, é bem superior ao enganoso Orçamento Participativo do PT e ao Falaê de Gustavo Carmo. De tão acertada é uma proposta quase anarquista.



O ponto alto de Gustavo Carmo foi a defesa de sua gestão na educação, quando promoveu o maior programa de requalificação escolar do município e o maior programa de atualização tecnológica. Afirmou que houve qualificação continuada com programas como o Educar pra Valer, baseado na experiência exitosa de Sobral no Ceará. Ele afirmou que esta mudança esperada, com melhoria significativa no Ideb, só ocorrerá em 15 a 20 anos. De fato se chegar a notas acima de 9,5 como ocorre na cidade cearense, vai-se levar muito tempo, já que Alagoinhas cresceu apenas 0,4 pontos em sete anos. Ednaldo criticou o contrato com o Instituto Lemman, levando os professores a saírem do estado, quando a Uneb ofereceu gratuitamente a mesma formação sem custos. O mesmo Lemman envolvido no calote das Americanas, lembrou Ednaldo.



Gustavo enalteceu mais uma vez os feitos do seu time, apresentando realizações na saúde como a UPA de Santa Terezinha, o Hospital Materno Infantil e o Hospital Regional, contudo este é o conjunto básico de equipamentos do qual toda cidade polo é provida. Somando-se a impossibilidade de se seguir com o Dantas Bião. Gustavo projeta uma Alagoinhas para o futuro como todos os gestores dos 5500 municípios do Brasil o fazem, mas o governo Federal já vem há décadas com baixa capacidade de investimento. A área de ciência e tecnologia continua emperrada, como então falar que Alagoinhas tem que se preparar para a era da Inteligência Artificial com a força do time? O marketing foi bem feito, mas, como toda propaganda, não resiste ao confronto com a realidade. O candidato do PSD tem se comprometido em levar a cobertura do PSF a 100%. Joaquim Neto elevou o número de UBS de 18 para 40 unidades. As filas para atendimento médico diminuíram nos dois últimos anos, mas há um grande represamento de solicitações para consultas com especialistas e para exames. Ele pretende criar horários estendidos de atendimento nas UBS.



No tema segurança pública, os números apareceram finalmente e não foram muito animadores. Alagoinhas é a 13 cidade mais violenta da Bahia e 30 do Brasil. Considerando os números de homicídios, figura como a segunda com menor índice, um ponto positivo. Ednaldo considera que um transporte público qualificado retirará das ruas uma quantidade considerável de veículos, dando fluidez ao trânsito. Sanson pensa em adotar o georreferenciamento na cidade para organizar as linhas de ônibus e o tráfego como um todo. O contrato da PPP da iluminação pública, no valor R$ 102 mi em 13 anos, foi criticado tanto por Ednaldo quanto por Sanson, com a denúncia de que ruas estão escuras pela baixa luminosidade das lâmpadas trocadas.


Leandro Sanson acusou mais uma vez Gustavo de roubar ideias do seu plano de governo, quando este falou na informatização da área de saúde, com o prontuário eletrônico e o controle de estoque e de gastos em tempo real. Mas só ele aposta na telemedicina. Defendeu sua proposta de fundir as secretarias de Fazenda e de Administração. Ednaldo fará o mesmo com as de Educação, Cultura e Esporte. Sanson calcula que economizará R$ 3 mi/ano com sua reforma administrativa. No fim Sanson e Ednaldo concordaram que um dos grandes males da administração municipal é a máquina inchada, pesada e ineficiente. Gustavo nada falou a respeito, terá que acomodar muitos interesses e interessados.




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