Yellowstone, uma excelente série apesar do wokismo da Netflix
Exibida pela Netflix, Yellowstone acompanha a luta, por vezes violenta, de uma família do interior do estado de Montana, nos Estados Unidos, contra a reforma de sua propriedade. A família Dutton, comandada pelo patriarca John (Kevin Costner), tem um grande império latifundiário e se recusa a abrir mão de qualquer milímetro das terras que herdou. De um lado, grandes imobiliárias querem a propriedade para desenvolver o comércio local e expandir o espaço urbano, e do outro, comunidades indígenas protestando contra a tomada ilegal de terras pertencentes aos nativo-americanos. Mas independente de qualquer coisa, a família Dutton não pretende dar o braço a torcer e perder seu poder.
John Dutton vive os conflitos internos de sua família, devido a personalidades distintas do seus três filhos. Kayce, o mais novo, é casado com Monica, uma descendente indígena. É rebelde e intuitivo. Betty, a única filha, tem espírito independente, seria a mulher empoderada mas sem discurso feminista. Jamie, o advogado, é mais velho que Betty, vive em conflito com ela, contestado pela irmã pela sua falta de coragem - testosterona - mas afeito às artimanhas e ocnchavos para obter poder do que conquistá-lo francamente. Representa o homem de origem rural, mal adaptado ao seu meio, que tenta espaço no contexto urbano, e que introjeta seus valores.
Por outro lado, John Dutton se vê pressionado pelo líder tribal Thomas, cuja reserva faz fornteira com suas terras e pelo corretor imobiliário Dan Jenkys. Ambos querem se aposar do rancho Yellowstone. O primeiro deseja expandir as terrras da reserva, para reconquistar o antigo território onde viviam seus antepassados. O segundo, o empresário californiano, visa implantar no local um megacondomínio. Ambos se unem contra John. Está montado o conflito entre o passado e o futuro, típico da polarização em que vivemos hoje. Como se o futuro fosse inexorável, na entrando na discussão se melhor ou pior.
Como 99% do catálogo da Netflix, a série se propõe a ser bastante woke - lacrativa - mas com uma diferença das demais, não coloca as minorias como vítimas do poder arcaico, discriminatório/preconceituoso e egoista. Eles deixam a máscara cair e assumem que, aquilo que está por trás da polarização, é de fato um novo poder econômico em luta com o antigo. Seria talvez a base de uma segunda geração de filmes wokes, aquele em que os disfarces já não se sustentan e as cartas estão todas na mesa. Quando os discriminados admitem que estão em conluio com o capital e que seus objetivos e bandeira justificam, por si sós, tal posição.
Não são mais as minorias lutando contra o opressor misógino, racista e homofóbico. São de fato os capitalistas futuristas lutando contra o capitalista preso ao passado com valores das sociedades ociedentais, da heteronormatividade branca. Só não retrata exatamente a realidade porque não entram em cena os megacapitalistas responsáveis por este conflito, esta nova engenharia social. Mas até os chineses aparecem e a personagem lésbica, que tenta livrar o filho advogado das garras do seu pai opressor, por meios escusos.
Mas ela tem direito como vítima de usá-los contra John, já devidamente desumanizado, merecedor de todo o tipo de vilania contra ele. Esta sem dúvida e a passagem mais woke da série junto com a cena em que Monica dá sua primeira aula na universidade em que lê trecho da carta de Colombo quando chega a América, onde deixa claro sua intenção de explorar os indígenas, como se o homem não fosse fruto do seu contexto histórico. Colombo tem uma maldição em si, como o rancho Yellowstone.
Malandramente, os roteiristas colocaram um ingrediente na trama que permite aos capitalistas progressitas avançarem sem dó sobre o fazendeiro conservador. O dono do Yellowstone tem por hábito contratar ex-presidiários, e pessoas que se opõem aos seus intentos são mortas e enterradas no próprio rancho - uma clara forçação de barra. O velho rancheiro tem contatos em várias esferas do governo, o que faz com que sua palavra seja lei, como se na vida real os capitalistas modernos não se valessem dos mesmos expedientes.
O embate com as tribos indígenas é o clássico revisionismo histórico - temos que reconcquistar tudo que nos foi tirado. Mas em um "efeito tropa de elite", turva a separação entre herói e vilão. O chefe indígena é mostrado como inescrupuloso e cínico. Parece que a série woke deixa às claras o problema do movimento woke, a apropriação deste pelos seus líderes que fazem dele um negócio. Mas talvez seja o trunfo desta nova geração de produção woke, que diz esquizofrenicamente: - "somos o mal também, mas temos direito de sê-lo, e estamos em uma marcha que não pode ser contida, que ninguém se atreva a contê-la". Não será também uma marcha para a total destruição humana?
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