A guerra cultural com toda potência. Pra quê e pra quem?
Quando a contextualização não agrada o sistema, o sistema não contextualiza. Mas quando quer, chama o especialista super arregado para fazer as vezes de ventríloco chic, com palavreado sofisticado. Fernanda Torres concorre ao Oscar com "Ainda estou aqui" na categoria de filme estrageiro ou de filme em língua não inglesa. Walter Salles parece que fez outro "Central do Brasil" no bom sentido, um filme bem construído e que emociona. Coloca, na frente da questão ideológica, os sentimentos de uma família que teve um pai subtraído pela ditadura militar - toda ditadura é ruim, toda ditadura mata.
Mais um filme sobre este assunto traumático, vamos lá. Parece que existe a necessidade de expurgar este trauma, mas também existe a necessidade da classe média reafirmar, "fomos as vítimas, lutávamos contra uma ditadura," embora muitos, incluindo Gabeira, tenham deixado claro que lutavam contra uma ditadura para estabelecer uma outra, a do proletariado, que viria a ser o socialismo. Sabendo também que o mesmo socialismo matou muita gente mundo afora e continua matando. Mas aqui não vale contextualizar, o sistema não permite que se contextualize.
O importante é replicar a narrativa. As atrocidades do regime militar foram maiores porque as vítimas eram classe média, parece que esse é o trauma real. Pobres morrem todos os dias, vítimas de um estado corrupto, sem tanta comoção. Morrem nas mãos de bandidos, idolatrados por esta mesma classe média que chora a morte de Rubens Paiva no cinema. Temos que chorar todas as mortes, a de Paiva também. Estranhamente este é o segundo filme sobre ditadura militar em menos de três anos, como se fosse preciso demarcar o território discursivo.
Pelo que se ouve da crítica, é um excelente filme, mas nem por isso deixa de ser uma peça de propaganda para os socialistas do Leblon, em favor do CAPITALISMO DE ESTADO que se implanta na América Latina. Já morreu gente presa pelo STF e velhas e velhotes estão com os fins de suas vidas aruinados por um ato de vandalismo transformado sumariamente em Golpe de Estado. E esta classe média, que chora seu morto de 50 anos atrás, grita inclemente: sem anistia! no show de Caetano Veloso, que passou de anarquista inspirado na juventude para um velho confuso agora. Não há problema em ser velho, feliz de quem consegue ser velho, é uma dádiva.
Fernanda Torres aparece em uma propaganda onde lhe fazem uma curiosa pergunta:
- É bom ter alma?
E ela responde de uma forma pernóstica e ao mesmo tempo brilhante e meiga:
- Você não sabe quanto!
Quem é esse que pergunta, alguém sem alma, um ninguém? Mas se for um alguém, significa que existem seres humanos sem alma que precisam ouvir e se guiar por alguém que tem o privilêgio de ter uma alma, alguém que está no topo concorrendo ao Oscar, uma artista, portanto. Será que a propaganda não quer dizer que os artistas são aqueles que têm alma e que têm a missão de fazer com que a população desalmada ou que não sabe que tem uma alma se desperte para este fato, seguindo o que falam estes gurus globais ou do beautiful people?
Ainda cabe uma interpretação sutil, Fernanda, que faz um filme denunciando o horrores da ditadura militar, tem alma, logo os que apoiaram a ditadura militar não têm alma, enfim este é um passo para dizer que os militares não têm alma e quem os apoia e os admira também não. Por inferência, chega-se à constatação de que os sem alma são todos aqueles que se apegam a um discurso patriota. Só quem apoia ditadura de esquerda tem alma e por aí vai.
E Anitta com a exacerbação sexual, seria válido, claro, se a exacerbação sexual não viesse junto com um discurso edonista, individualista e materialista. Se quer dar pra todo mundo, pelo menos não case jurando fidelidade, tenha casamentos abertos.
Só que a promiscuidade chega a um ponto que cansa, mas é válido experimentá-la, tanto para homens quanto para mulheres. Eu particularmente acho que casamento não deveria existir. É uma contradição defender liberdade sexual e desejar casar, são coisas incompatíveis.
Repetindo: a única solução mambembe seria o casamento aberto, mas o melhor nestes casos, convenhamos, é não casar. Simplificando desta maneira, o pseudo discurso revolucionário da Anitta cai por terra, quem é que está preocupado com vida sexual dela? Agora o que está por trás desse discurso é que precisa de reflexão. Mas pregar a liberação sexual em si, isto já tem mais de meio século. Vamos cuidar de outras coisas, que tal fazer música boa, hein, não seria melhor?
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