Fernanda Torres ganha Globo de Ouro, mas o pano de fundo não é bom
Fernanda Torres ganha o Globo de Ouro como melhor atriz na categoria drama, neste último Domingo (05). Ela foi escolhida pela atuação em "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Sales, filme no qual interpreta Eunice Paiva, mulher do jornalista Ruben Paiva, torturado e morto pela ditadura militar. Ela competia contra Angelina Jolie, Nicole Kidman, Tilda Swinton, Kate Winslet e Pamela Anderson. Torres é a primeira atriz brasileira a receber o prêmio e aumenta suas chances de conquistar o Oscar, que ocorre no início de março.
Não é novidade para ninguém que os artistas brasileiros estão entre os melhores do mundo, favorece a isto, na dramaturgia, um certo desgaste do cinema americano com suas fórmulas exaustivamente repetidas. Outros países em vários continentes vêm ganhando destaque também. Claro que dentro de sua fórmula, mesmo batida, ainda se tem muito a oferecer na terra do tio Sam.
Mas não é só o desgaste do formato, vive-se uma época em que uma geração brilhante de artistas americanos sae de cena. Tanto que na fase em que estes estavam em ação, a Fernanda Montenegro, mãe da Torres, nossa estrela maior, não conquistou o mesmo prêmio, quando atuou extraordinariamente em Central do Brasil, do mesmo diretor Walter Salles.
Não assisti ao filme, mas todos não cansam de elogiá-lo e Fernanda Torres é uma das nossas melhores atrizes, mas me incomoda o contexto desta vitória, como já deixei claro na matéria anterior "Guerra cultural com toda potência...". Um filme sobre ditadura militar, protagonizado por uma atriz que representa todo apoio incondicional de uma classe artística interesseira a uma esquerda corrupta, esse pano de fundo não é bom.
É como se o prêmio legitimasse este elitismo/oportunismo cultural que se consolida e se fortalece no Brasil. É triste uma artista brilhante como Fernanda Torres se deixando usar como embalagem fina para esse arremedo... Vejo também que o ambiente desta esquerda mundial, pró-capitalismo de estado chinês, favorece que o talento de uma atriz de um país em desenvolvimento seja reconhecido, quando a mãe, bem mais talentosa, não o foi. Beneficiar o Brasil, parceiro de primeira ordem de China, Rússia e Irã, está no contexto cultural americano woke.
Fica uma pontinha de desconfiança. logo desfeita, pois sabemos do talento de Fernanda. Gostaria de ter visto todos os filmes que concorreram. Mas sei que a fórmula americana, como já disse, foi super utilizada e não se renovou a contento. Também, por outro lado, vejo como ultra equivocado o pressuposto dos conservadores e liberais de que a arte deve ser encarada como um produto de mercado, como também seu apego ao retorno à famigerada "alta cultura". Acho que o governo deve subsidiar a cultura, mas não da forma elitista como fazem, certamente com ênfase na formação artística, definitivamente o que não ocorre.
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