Fernanda Torres deveria ganhar o Oscar como melhor atriz. Salles adere ao discurso woke




 Wlater Salles ganhou o Oscar de Filme Internacional com "Ainda estou aqui". Aproveitou para criticar o autoritarismo de Donald Trump, como criticou Bolsonaro nas entrevistas de campanha para a premiação. Segundo ele, seu filme é uma mensagem de alerta para a preservação da democracia. Mas não a contextualiza falando dos regimes autoritários  de esquerda vigentes na atualidade, China, Coreia do Norte, Cuba, Venezuela, Guatemala, as teocracias e a ditadura do judiciário no Brasil. Para ele não vale a pena sequer questionar o prêmio de melhor atriz que deveria ter sido de Fernanda Torres. Não adianta brigar com cachorro grande, nem ir de econtro à hegemonia woke. Os wokes não são nada democráticos, porque se acham incriticáveis.


Uma crítica justa aos conservadores poderia ser feita à pouca valorização que dão à cultura e ao cinema de forma específica. Disse, na matéria anterior, que o filme brasileiro não é woke e não venceu o prêmio por ser woke. Mas o ambiente do Oscar é woke e Salles também sustenta esse discurso woke, talvez visando projetos futuros. Ele não critica o baixo nível do próprio Oscar, nem se indigna por perder para um filme inconsistente como Anora. Este é um bom trabalho, mas não para levar o Oscar como melhor filme, melhor direção e melhor roteiro original. Também é incongruente que Fernanda Torres tenha perdido o prêmio para Mikey Madison, protagonista de Anora.


O diretor brasileiro é um rebelde domesticado, que segue um script da esquerda corrupta globalista. Assisti a Anora, ao O Brutalista e a A Substância. O filme com qualidade para ganhar o Oscar seria O Brutalista, mas seu recorte é antiquado. Faz sentido que Anora por suas inovações de linguagem superasse O Brutalista, mas sua história é fraca, é débil. Apenas uma garota prostituta que aceita se casar com o filho de um magnata russo. Um ato inconsequente que tem tudo para não dar certo, mas por um momento ela acredita nas intenções do rapaz, do nada. Com a pressão dos pais, por meio de capangas, o rapaz amarela e não sustenta o seu repentino amor, óbvio.


No fim de tudo, um dos capangas se apaixona por Anora e  ela percebe os bons sentimentos do rapaz e o filme termina. Metade da narrativa é apenas Anora junto com os capangas russos procurando o filho do Magnata, indo ao encontro dos amigos dele. A filmagem realmente é disruptiva  com relação ao grande cinema americano, representado pelo O Brutalista. 


A Substância é ainda mais inovador. Mas tanto Anora quanto A Substância são apenas colagens de fórmulas vanguardistas dos anos 60 da vertente europeia, com muita influência do surrealismo. Há também composição com a HQ, a publicidade, o video clip e o Tic Toc. Planos fechados,  câmera instável, profusão de cortes, mudança abrupta de angulação. Ambos apelam para a dramaticidade cômica, acho que por não ter fôlego para serem dramáticos ou não terem roteiro para tanto.


 A Substância perde para Anora, pois esse desemboca em uma metáfora fácil. Fora O Brutalista e Ainda estou aqui, os filmes favoritos não estavam em nível da premiação. Pior que pode se tornar uma tendência, caminho livre para se fazer cinema de baixa qualidade. Melhor se seguíssemos contando boas histórias.


O Brutalista representa o grande cinema americano e sua capacidade de contar histórias e boas histórias, o que suplantou os filmes da vanguarda europeia, embora esta tenha servido para arejar este mesmo cinema comercial. Glauber Rocha dizia, traduzindo esta tendéncia dos europeus: "cinema não é para contar história, cinema é para se ver e ouvir". No caso, a história serve apenas como um anteparo para desfilar personagens e intensificá-los por meio da linguagem e dos elementos estéticos.


 Esse caminho esteve no foco do atual Oscar, um retorno às inovações da Europa dos anos 60, mas isto é feito sem a mínima coerência entre mensagem e meio, entre forma e substância. O cinema americano esta perdido, mas quanto a isto, Salles silencia, afinal Hollywood não é uma democracia, então seu discurso cai na hipocrisia e no vazio.

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