Aja-All é o mais novo nome da cena musical de Alagoinhas







Fruto de um projeto cultural, surge mais um nome para se ficar bem atento no cenário musical de Alagoinhas.  Aja-All  era um garoto de oito anos, ganhou um concurso de poesia em sua escola. O tema: a raiva.. Venceu todas as etapas municipal e regional, chegando à final em Salvador. Os pais, Cosme Silva, um vigilante e Valquíria Santos, uma professora de séries iniciais de ensino, sempre o incentivaram para atividades esportivas e artísticas. Tentou escolinha de futebol. teclado, violão... mas nada lhe conquistava.


 Seguia, a poesia foi reaparecendo junto com o envolvimento no hip-hop, por volta dos 16 anos.  Aja-all tem a tranquilidade de quem cresceu na zona rural, na comunidade do Estevão. Mas em Alagoinhas, essa linha entre o urbano e o rural é tênue. Seu pai, Cosme, sempre esteve ligado a questões sociais, já montou um grupo de teatro no distrito e foi presidente da associação de moradores. E a família morou períodos na sede do município.


Nosso jovem cantor/compositor fez o curso técnico de agropecuária no IFBaiano de Catu., teve boa formação escolar; Lá encontrou colegas envolvidos com música e em Alagoinhas já saia para as noites de hip-hop. Ele se  considera parte do movimento, embora tenha uma pegada mais romântica. Sua primeira música gravada em estudio, "Quero navegar", mostra isto. Fala de amor sem dizer a palavra amor, sem dizer "te amo" com todas as letras. Tem realmente a rebeldia da música "marginal" e encontra espaço para tocar na questão social e fala de desejos mundanos. Se enxerga dentro da resistência cultural preta: "Já não sigo correntes, sigo para ser nascente", canta.


Ele tem um canto potente, a música é calma, mas a voz é cheia, de um grave levemente aranhado. Uma melodia original e bela em uma poesia que foge aos padrões, aos cacoetes e macetes do romantismo e enxerga a mulher dentro da sua posição contemporânea sem traumas. Quem está diante de Aja-All percebe que ele transpira sensibilidade. Mesmo com 23 anos, entende a vida como uma navegação, que não cessa e onde tudo se interliga - a modernidade é líquida. Mas não quer ficar estigmatizado como cantor romântico, se sente chamado para ritmos mais acelerados - tem todo o contexto do hip-hop e da música preta para se lançar.


Aja-All sabe a força que tem seus versos e os coloca com contundência, a voz é harmoniosa e densa. A música abre com um anúncio: "Quero navegar, num rio". Quer seguir rumo ao desconhecido, ao novo e admite que só encontra forças na mulher amada. Parece uma declaração de fragilidade, quando na realidade é constatação de que nos construímos na interação com o outro. A admissão de que  "o quê" encontrado no outro lhe dá consciência de si - em si e para si, como diria o filósofo. 


Quer o "ouro no dente", quer sucesso social, mas quer ir além e tem a sensação de que nada lhe falta na vida simples. Parece contraditório, mas é pura dialética. A música convida a mulher amada a seguir com ele, mas ela é quem o inspira a ir além. É como se ela, tudo que ela desperta em meio aos desafios e armadilhas da vida, fosse o próprio rio, que configura seu estar no mundo.


"Eu já vi trovejar e não te abandonei", ele diz para ela, mas em momentos de vacilo. se desfez dela e percebeu que sem ela não dá. Quem está perto de Aja-All sente que ali está alguém tocado pela  arte, que sentiu seu chamado. Bom, vou contar um pouco como esta navegação aconteceu. Ele participou de projeto da Lei Aldir Blanc realizado pelo Estúdio Jimbo. A proposta foi gravar cinco cantores/compositores da periferia. Aja-All foi um dos selecionados. A música gravada "Quero navegar" termina sendo uma profecia auto realizada. Ele já está navegando e, por coincidência, sua namorada Lorena Ferreira faz Back Vocal na faixa gravada e nos shows, que já começam a aparecer.


Aja-All pretende fortalecer o seu trabalho em Alagoinhas, mas sabe que terá que correr mundo para se consolidar como artista, seguindo o exemplo bem sucedido de Hiran Fernandes. O rio é um Amazonas, um São Francisco ou um Paraguassu, não é pouca coisa, não. 


Para seguir, sente a necessidade do apoio público, a época das grandes gravadoras se foi, ficou mais simples iniciar, mas o mercado ficou mais complexo. Feiras e festivais são, às vezes, mais importantes que teatros. Tudo isto faz parte da "viralização". Projetos como o que o lançou no mundo artístico são fundamentais, o que não quer dizer protecionismo ou financiamento integral e individualizado. É mais investir na formação dos ambientes culturais.


Ele também considera possível conciliar a música com a atividade agrícola, numa proposta de produzir alimentos saudáveis. Por enquanto, ele circula como motorista de Uber pela cidade. Sua música fala que a companheira pode guiá-lo: "Pode me guiar, sigo sua lei, pode me usar, instrumento serei". Mas isto não significa submissão, apenas comunica um anti machismo saudável e que tem o reconhecimento de que o amor deles serve de farol que faz "ver a luz além do abismo". É, é bem filosófico mesmo, vale à pena seguí-lo.


Confira no youtube:


"Quero navegar"

Ficha Técnica:

Letra e interpretação: Aja-all

Segunda voz: Lorena Ferreira

Composição: Aja-all, Lucas Costa, João Sé e All4n Beats

Captação, mix e master: Estúdio Jimbo 

Filmagem e edição do clipe: React produções e genival bboy

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