Mamãefalei, sexismo, materialismo, individualismo

Não concordo com o simplismo que coloca os bandidos como vítimas da sociedade, mas claro que entendo que exista uma relação estreita entre pobreza e criminalidade. Fui contra os excessos cometidos e o radicalismo das medidas, porém ficou clara, para mim, a necessidade de se fazer lockdown na pandemia de coronavírus, por outro lado, também admito que ele pode estar vinculado ao aumento dos casos de suicídio e mortes por overdose no período.

Não podemos viver tirando as coisas de contexto, nem culpabilizando os indivíduos para não corrigir os problemas sociais, causados por pura inoperância dos agentes competentes sobretudo daqueles relacionados ao estado e às grandes empresas.

A canalhice de Arthur do Val, o mamãefalei, não deixará de ser o que é, no entanto precisa ser enxergada dentro do contexto em que vivemos de sexualização exacerbada, de materialismo, individualismo, competição extremada e corrupção.

 Seus áudios gravados e vazados dão conta de que ele acha as ucranianas lindas e fáceis por serem pobres e de que, como seu colega Renan do Santos. vai adentrar no mundo do turismo sexual na região.

É bom lembrar quando tudo começou, com a Xuxa animando programas infantis com total sensualidade, depois veio o funk e o pagode, que cunhou o termo dúbio "novinha", que tanto pode se referir à adulta de até 20 anos, quanto às adolescentes e à pedofilia.

Quando Rita Lee fez aquela famosa música separando sexo e amor, se abriu o espaço para relações apenas por prazer. Isso não é errado, porém sua banalização dá condições para a normalização da prostituição, para o vício em pornografia e para transtornos mentais como a compulsão sexual.

Hoje a indústria do sexo cresce em todos os cantos, fruto das contradições do capitalismo e de um sistema educacional falido, que excluem homens e mulheres do mercado de trabalho. Ao invés de corrigir o problema, vamos culpabilizar o indivíduo ou glamourizar as práticas, como cansam de fazer os podcasts, como se estivessem  promovendo uma grande revolução sexual.

Não há nada de errado em fazer sexo apenas pelo prazer, é até saudável, contudo não a ponto de objetificar as mulheres e de colocar essa relação acima dos afetos, como se faz atualmente. Rita Lee não imaginou que o sexo venceria o amor. 

As pessoas já começam a achar normal o teste do sofá para preenchimento de cargos e para a aprovação em disciplinas, o famoso dei para passar, desde de que haja consenso entre as partes. Tanto que, quanto a esse assunto, as feministas ficam muito confusas, umas até achando que isso faz parte do empoderamento feminino. Outras repudiando como objetificação da mulher.

Esse é o mundo que produz os "mamãefalei", que por isso não pode ser tomado como um caso isolado. Claro que ele é um sociopata, mas é tão sociopata quanto o político que troca cargo por sexo e o professor que o barganha por nota. Mas é a hipervalorização sexual que permite esse casamento entre o sexismo e sociopatia. 

Cuidado, acho que temos mais sociopatas do que imaginamos e existem ainda os psicopatas que, levados pelo machismo, praticam o feminicídio. Precisamos saber porque a sociedade atual produz tanto o sexismo quanto as psicopatias e sociopatias. Culpabilizar o indivíduo é fazer vista grossa para o verdadeiro problema.

 Que fiquemos atentos também, pois querem livrar a cara do Renan dos Santos, que está vinculado, na fala do amigo, a um suposto turismo sexual. Não devemos também retroceder ao moralismo bíblico do sexo só depois do casamento. Sexo é muito bom, mas saindo de certos limites, pode causar transtornos. Bom senso é a resposta.